A comunicação não é feita apenas de palavras. Na política, nos negócios, na vida em geral, os gestos, a postura e até a escolha do que vestimos podem ser formas de transmitir mensagens tão claras como um discurso bem escrito. No fundo, a comunicação não verbal. Os símbolos importam. E a subtileza pode ser uma das ferramentas mais acutilantes e certeiras da comunicação.
Há umas semanas, Volodymyr Zelensky foi recebido na Sala Oval da Casa Branca e duramente criticado por não usar fato e gravata, um detalhe que, para alguns, foi interpretado como um sinal de desrespeito para com um espaço de tanta importância. A simbologia do poder, em certos círculos, ainda se mede pelo alinhamento do nó da gravata, ou pelo volume da voz.
Poucos dias depois, António Costa, presidente do Conselho Europeu, alguém que invariavelmente se apresenta de fato e gravata em todos os eventos públicos, surgiu na cimeira de líderes Europeus e da NATO em Londres com um blazer, mas sem camisa e sem gravata. No seu lugar, uma camisola de gola alta, preta.
Não fez qualquer comentário sobre a escolha e a linguagem corporal foi de business as usual. Mas, na política — e na comunicação — o silêncio é, muitas vezes, mais eloquente do que um enorme discurso.
A escolha do vestuário pode parecer irrelevante, mas na arena diplomática e institucional, cada detalhe tem peso. Num momento em que Zelensky foi censurado por não se vestir “à altura” da Casa Branca, António Costa surge num dos mais prestigiados e mediáticos palcos políticos da Europa sem gravata, num gesto que pode ser lido como uma afirmação silenciosa de solidariedade e de desafio às convenções rígidas e às mentes retrógradas.
A grandeza da comunicação não verbal reside precisamente aí: na capacidade de fazer afirmações inequívocas sem precisar de uma única palavra. Enquanto uns impõem a sua visão do poder pela formalidade do protocolo, outros desafiam essa visão com subtileza e inteligência estratégica.
António Costa mostrou que comunicar bem não é apenas falar bem. É compreender os símbolos, os momentos e o impacto das pequenas, mas poderosas, escolhas.
Muitas empresas optam pelo volume, pelo insistência, pela barulho, pela quase omnipresença, por vezes muito intrusiva, estrondosa e estridente quando, por vezes, essa estratégia tem o efeito oposto ao pretendido.
No mundo da comunicação — seja ela política, empresarial ou institucional — a subtileza continua a ser uma das ferramentas mais eficazes para quem a sabe usar. E para quem sabe estar.
Que tal é a sua comunicação? Falamos?