O que perdemos quando trocamos a curiosidade crítica pela conveniência da inteligência artificial?
Depois de décadas a aprender como aparecer nos motores de busca, as marcas enfrentam um novo desafio: ser escolhidas por sistemas que já não mostram resultados, dão respostas. E, muitas vezes, erradas.
Estamos perante o risco da resposta única da genAI, e ainda poucos o reconhecem.
Estamos mesmo a deixar de pesquisar?
A revolução da inteligência artificial generativa está a transformar, silenciosamente, os nossos hábitos digitais. Cada vez mais pessoas trocam os motores de busca tradicionais por plataformas como o ChatGPT, onde as respostas surgem rápidas, diretas e únicas.
Contudo, será que essa resposta única é a certa?
Este novo comportamento levanta preocupações sérias. Ao deixarmos de consultar múltiplas fontes, corremos o risco de aceitar como verdade aquilo que nos é dito por um modelo que não tem qualquer compromisso com a veracidade, apenas com a plausibilidade. Estamos a abdicar do contraditório, da comparação e da dúvida; elementos essenciais do pensamento crítico.
O risco da resposta única da genAI: quando parecer certo não é o suficiente
A promessa de poupar tempo com respostas diretas tem um custo elevado: o desaparecimento do contexto. A genAI apresenta conclusões como se fossem factos, mas fá-lo com base em padrões estatísticos, não em validação de fontes. Aliás, não é raro inventá-las. Isso significa que a informação pode estar desatualizada, ser imprecisa, enviesada ou até completamente falsa, e uma pessoa raramente tem como confirmar, ou sequer identifica essa necessidade.
Mesmo quando as respostas parecem fiável, falta-lhe quase sempre uma componente fundamental: transparência. Não sabemos de onde vieram os dados. Também não sabemos quem os verificou, se é que alguém o fez. Mais, não sabemos que perspetivas ficaram de fora. E não sabemos quais os enviesamentos que a IA está a reproduzir (ou a amplificar).
Uma resposta categórica, mas falsa
Um exemplo concreto. Recentemente, testámos o ChatGPT com uma pergunta simples: “como impedir que a Meta use os nossos dados para treinar modelos de IA?” Esta pergunta foi feita no dia 31 de maio, depois de já ter passado o prazo identificado pela Meta, para registar a oposição. A resposta inicial foi clara: bastaria preencher um formulário. No entanto, quando perguntámos acerca de um prazo para o fazer, o sistema respondeu com confiança: o prazo terminava a 27 de maio, mas a Meta continuaria a aceitar pedidos de oposição.
Parecia simples. Parecia certo. Pedimos a fonte.
O sistema indicou uma notícia da AP News, que não confirmava a informação. Foi preciso insistir mais duas vezes para o ChatGPT admitir que não havia nenhuma fonte oficial a confirmar aquela afirmação.
A resposta parecia correta. Tinha tom, autoridade e até uma referência. Apesar disso, estava errada. E teria passado como verdadeira para a maioria das pessoas, que nem questionariam a veracidade, porque nem reconheceriam essa necessidade. É este o maior risco da resposta única da genAI.
Este episódio não é exceção. É precisamente este o tipo de erro estrutural que estas ferramentas podem produzir, que se agrava quando deixam de ser ponto de partida e passam a ser destino final.
Conclusão: pensar, ainda é preciso
A promessa de respostas rápidas e diretas é tentadora. Mas quando a precisão, o contexto e a transparência ficam de fora, o risco é elevado — para as pessoas, para a informação e para as marcas.
Estamos a prescindir da dúvida, da validação e do espírito crítico. Confiamos, muitas vezes de forma acrítica, em respostas que apenas parecem certas. A rapidez da resposta não pode sacrificar a qualidade dessa resposta, nem nos desresponsabiliza de confirmar a informação que nos é dada. Confiar sem questionar é um luxo que não podemos permitir. Continuar a pensar, a verificar, a comparar e a exigir fontes claras não é apenas uma boa prática — é uma necessidade.
No próximo artigo, falamos do impacto desta mudança para as marcas e da transição silenciosa do SEO para o GEO, e de como se deve começar a agir hoje para não desaparecer amanhã, porque ignorar o risco da resposta única da genAI é comprometer a integridade da informação e a confiança nas marcas.
Este é o segundo artigo de uma série dedicada ao impacto da IA generativa na forma como as mensagens, os conteúdos, a informação, chegam às pessoas. Assim, se ainda não leu o primeiro, pode fazê-lo aqui: “A pesquisa mudou. Mas as marcas ainda não”
Entretanto, quer preparar a sua marca para este novo cenário? Falamos?